Síntese das revisões sobre “Políticas de intermediação” e apontamento de lacunas de pesquisa
O acesso ao mercado de trabalho é uma prioridade global nas políticas públicas, especialmente no esforço para incluir grupos vulneráveis e reduzir desigualdades sociais. Políticas ativas de acesso ao mercado de trabalho (Active Labour Market Policies, ou ALMPs) são amplamente implementadas, abordando desafios como a transição de jovens para o emprego formal, a reintegração de ex-militares, a empregabilidade de adultos com deficiência e a inclusão produtiva de pequenos empreendimentos em mercados emergentes.
Os programas de ALMPs são variados e incluem iniciativas como treinamento profissional, intermediação de mão de obra, subsídios salariais e obras públicas. Burger et al. (2020) exploraram quatro programas principais na Eslovênia: treinamento institucional, treinamento no trabalho, subsídios salariais e obras públicas. Eles destacaram que o treinamento no trabalho mostrou impactos positivos em termos de empregabilidade e qualidade dos empregos. Em contrapartida, as obras públicas tiveram resultados limitados, com impacto temporário na reinserção laboral.
Na América Latina e no Caribe, Escudero et al. (2020) identificaram que os programas de treinamento são os mais comuns, com destaque para aqueles voltados para jovens e mulheres. Esses programas, quando intensivos e bem planejados, geraram benefícios salariais e aumentaram as chances de emprego formal, principalmente em contextos de crescimento econômico.
Para países em desenvolvimento, Chege e Wang (2021) analisaram o papel das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na geração de empregos em pequenas e médias empresas (PMEs). Eles apontaram que estratégias baseadas em inovação tecnológica não apenas fortalecem os mercados, mas também geram inclusão produtiva ao permitir a expansão de negócios em áreas rurais e urbanas.
Por outro lado, Mallick e Islam (2022) estudaram políticas de emprego assistido para adultos com doenças mentais. Eles destacaram a importância de intervenções personalizadas e suporte contínuo como elementos fundamentais para promover estabilidade no emprego e melhorar a qualidade de vida. Já Frentzel et al. (2021) analisaram serviços de transição escolar para estudantes com deficiência, com foco em treinamentos práticos e apoio psicossocial. Esses programas tiveram impacto positivo na inserção desses jovens no mercado de trabalho formal.
Manthorpe e Bramley (2020) discutiram políticas voltadas para ex-militares, que enfrentam barreiras como desafios de saúde mental e reintegração social. Estratégias que incluem treinamento prático, apoio psicológico e suporte na adaptação ao ambiente civil foram consideradas cruciais.
Taylor et al. (2022) complementaram a discussão avaliando os programas de emprego assistido sob uma perspectiva de custo-benefício. Eles concluíram que, quando bem implementadas, essas políticas geram retornos econômicos expressivos, tanto em curto quanto a longo prazo.
Os desafios para a implementação das ALMPs variam conforme o contexto econômico e social. Na Eslovênia, Burger et al. (2020) identificaram que a sustentabilidade de programas como obras públicas é limitada, exigindo reestruturações para produzir impactos duradouros. Eles ressaltaram que, sem um planejamento robusto, essas intervenções podem gerar benefícios apenas temporários.
Na América Latina, Escudero et al. (2020) apontaram que a eficácia dos programas depende do alinhamento com o ciclo econômico. Durante períodos de expansão, as políticas tendem a apresentar melhores resultados, enquanto em cenários de crise, os retornos são significativamente menores.
Chege e Wang (2021) observaram que a implementação de tecnologias digitais em PMEs enfrenta barreiras relacionadas à infraestrutura e à formação de habilidades digitais. Sem investimentos consistentes e apoio governamental, o impacto dessas tecnologias no mercado de trabalho permanece limitado.
Entre os desafios mais críticos, Mallick e Islam (2022) destacaram a descontinuidade do suporte para adultos com doenças mentais, o que pode levar a recaídas e instabilidade no emprego. De forma similar, Frentzel et al. (2021) apontaram que a falta de acompanhamento após a entrada de jovens com deficiência no mercado prejudica a sustentabilidade dos resultados alcançados.
Manthorpe e Bramley (2020) também enfatizaram que, para ex-militares, a ausência de políticas de suporte de longo prazo contribui para a persistência de problemas de saúde mental e dificuldades na reintegração social.
As evidências apontam que as ALMPs podem gerar impactos positivos significativos, desde que bem planejadas e direcionadas às necessidades específicas dos grupos beneficiados. Na Eslovênia, Burger et al. (2020) demonstraram que o treinamento no trabalho e os subsídios salariais produziram os melhores resultados em termos de estabilidade no emprego e qualidade das posições ocupadas.
Na América Latina, Escudero et al. (2020) destacaram os ganhos salariais de mulheres e jovens em programas de treinamento intensivo, enquanto Chege e Wang (2021) observaram que o uso de TICs em PMEs promoveu inclusão produtiva em mercados emergentes.
Mallick e Islam (2022) reforçaram que o emprego assistido é crucial para adultos com doenças mentais, pois melhora não apenas a estabilidade no trabalho, mas também a qualidade de vida. Por outro lado, Frentzel et al. (2021) mostraram que programas de transição escolar, apesar de eficazes no curto prazo, enfrentam dificuldades de acompanhamento no longo prazo.
Taylor et al. (2022) analisaram os impactos econômicos das ALMPs e concluíram que políticas de emprego assistido oferecem retorno econômico considerável, especialmente quando o suporte é mantido ao longo do tempo.
Apesar das contribuições significativas das ALMPs, várias lacunas de pesquisa permanecem. Thompson et al. (2019) ressaltaram a falta de estudos longitudinais que avaliem os impactos sociais e econômicos dessas políticas em horizontes mais amplos.
Burger et al. (2020) destacaram a ausência de análises que considerem os efeitos indiretos das políticas sobre outros trabalhadores e setores da economia. Além disso, Escudero et al. (2020) apontaram a necessidade de mais estudos em países do Caribe e grandes economias da América Latina, onde os dados sobre políticas de mercado de trabalho ainda são limitados.
Chege e Wang (2021) argumentaram que a fragmentação das pesquisas sobre o impacto das TICs limita a compreensão dos mecanismos pelos quais essas tecnologias promovem empregos. Por fim, Frentzel et al. (2021) destacaram a falta de evidências sobre como gênero e raça afetam os resultados dos programas de transição escolar.
As políticas ativas de acesso ao mercado de trabalho são fundamentais para promover inclusão produtiva e combater desigualdades sociais. Estudos recentes mostram que programas bem desenhados e sustentados por suporte contínuo podem gerar impactos significativos tanto em curto quanto a longo prazo. Contudo, desafios relacionados à sustentabilidade, financiamento e adaptação às realidades locais ainda precisam ser enfrentados.
Referências
BURGER, Anže et al. A comprehensive impact evaluation of active labour market programmes in Slovenia. Empirical Economics, v. 62, n. 6, p. 3015-3039, 2022.
ESCUDERO, Verónica et al. Active labour market programmes in Latin America and the Caribbean: Evidence from a meta-analysis. The Journal of Development Studies, v. 55, n. 12, p. 2644-2661, 2019.
CHEGE, Samwel Macharia; WANG, Daoping. Information technology innovation and its impact on job creation by SMEs in developing countries: an analysis of the literature review. Technology Analysis & Strategic Management, v. 32, n. 3, p. 256-271, 2020.
MALLICK, Sue; ISLAM, Md Shahidul. The impact of co‐location employment partnerships within the Australian mental health service and policy context: A systematic review. International Journal of Mental Health Nursing, v. 31, n. 5, p. 1125-1140, 2022.
FRENTZEL, Elizabeth et al. Pre-employment transition services for students with disabilities: A scoping review. Journal of Vocational Rehabilitation, v. 54, n. 2, p. 103-116, 2021.
TAYLOR, Joshua et al. Cost-benefit analyses of employment services for individuals with intellectual and developmental disabilities: A scoping review. Journal of Vocational Rehabilitation, v. 54, n. 2, p. 193-206, 2021.
MANTHORPE, Jill; BRAMLEY, Stephanie. Barriers and facilitators to ex-service personnel obtaining employment within social care roles with older people: A scoping review. Working with Older People, v. 24, n. 3, p. 205-220, 2020.
THOMPSON, Judy L. et al. Evaluating educational and employment services for young people with psychiatric conditions: A systematic review. Psychiatric services, v. 73, n. 7, p. 787-800, 2022.